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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Capítulo 8 - O despertar

O despertador ecoou em meus ouvidos, levanto da cama num pulo, o quarto estava uma bagunça, livros e cadernos jogados pela estante do computador, minha guitarra e meu violão jogados num canto quase esquecidos, pôsteres de bandas de metal espalhados pela parede. Há anos não havia tido um sonho tão estranho, essa ideia de apocalipse zumbi sempre mexeu com minha cabeça, mas quando eu era apenas um garoto, agora com vinte e um anos, esse pensamento se tornou meio esquecido na minha mente, sentei na cama sem entender o real motivo de ter sonhado algo que era meu sonho de adolescente, seria isso um sinal? Um sorriso brotou em meu rosto ao pensar na ideia.
- Seria bom se fosse verdade, mas chega de pensar em coisas que não existem, preciso trabalhar.
Mal sabia eu que me arrependeria amargamente de ter dito isso, me deu um alívio ao ver meu pai e minha mãe, visto que os eventos utópicos da noite anterior mexeram comigo, foi tudo tão real, eu quase consegui sentir aquelas dores angustiantes, as mutações grotescas e o medo de perder meus amigos, os dois sorriram ao me verem e me deram bom dia. O tempo passou, e com isso vieram às responsabilidades, trabalho e faculdade, via meus amigos da época de escola apenas nos finais de semana, mas mantínhamos contato pela internet diariamente, alguns se afastaram, outros se mudaram, mas os que permaneceram considero irmãos.
Despedi-me dos meus pais e parti para mais um dia de trabalho, eu trabalhava há um tempo em uma imobiliária, pois precisava pagar a faculdade, e era o que tinha na época para me manter.
Eu mantinha o mesmo cabelo despenteado de sempre, e agora uma barba média, o que combinava com meus olhos verdes e escondia um pouco da minha timidez, o jeans casual de sempre junto com um tênis e camiseta polo básica, tudo o que me tornava mais um cara normal em meio à sociedade.
O dia passou rápido, finalizei meus afazeres e fui pra casa me preparar pra ir pra faculdade, eu cursava Biologia, um sonho antigo que estava realizando depois de muito tempo, sonho esse que seria interrompido num banho de sangue. Peguei o ônibus e segui até São José do Rio Preto, cidade ao lado da minha cidade natal, Bady Bassitt. Era noite de sexta feira e após uma semana cansativa tudo que eu queria era me reunir com meus amigos após a aula e jogar conversa fora e beber em algum bar esquecido por ai. Como sempre fui recebido pelos meus amigos José, Renan, Paula, Lucas, Marlon e Maria, amigos esses os quais eu tenho mais contato e intimidade.
- E ai Douglas, vai dormir na aula de novo? – disse Paula em tom de gozação.
- Eu estou dormindo desde manhã, não vai ser novidade dormir na sala hoje – disse a ela sorrindo.
Ao contrario do que eu disse, dessa vez não dormi, algo estava me incomodando desde que desde que cheguei à faculdade, uma sensação de que algo estava errado, e muito errado, quase não consegui prestar na aula.
- Cara, você tá bem? – Disse José percebendo minha falta de interesse na aula – Só fica ai rabiscando nesse caderno.
- Eu estou bem Zé, apenas meio cansado – eu não estava nada bem, eu realmente não havia me recuperado mentalmente daquele sonho maluco.
Chegou a hora do intervalo, saímos da sala e fomos pra um canto ao lado da faculdade conversar, como sempre fazíamos. No final da rua onde estávamos uma sombra surgiu, parecia ser uma mulher, estava tendo espasmos e seu corpo tremia todo, José percebendo aquilo disse.
- O que será que deu nessa doida? Vou lá ver o que tá acontecendo.
Ele correu até ela e eu percebendo aquela movimentação estranha fui atrás dele.
- Moça, tá tudo bem? – disse ele se aproximando e tocando seu ombro, ela se virou rapidamente.
Ao ver o rosto daquela mulher eu dei um passo para trás e tropecei, estava muito escuro e eu não conseguia ver direito, mas aquela sensação que senti ao chegar lá hoje se confirmou.
- José!!! Não!!! – Eu grito me afastando.
Tarde demais.
Em meio aos dentes daquela mulher havia pedaços de carne e tecidos, tudo isso misturado com muito sangue, no seu pescoço havia ranhuras e uma marca enorme de mordida e havia sangue por todo o seu corpo. Com sua mandíbula estalando ela tenta conseguir seu prêmio, o pescoço de José, em um movimento grotesco e atrapalhado que seria engraçado se não fosse custar à vida de meu amigo, tentativa essa que foi em vão, sempre com alguma comida na mão, José enfia seu sanduiche na boca podre daquele monstro, cheguei a tempo de puxá-la de cima dele e com um chute deslocar seu maxilar.
- Vamos sair daqui!!! Agora!!! – eu digo ajudando ele a levantar.
- Cara, essa vadia tentou me morder!!! – José estava completamente transtornado.
- Não vamos dar outra oportunidade a ela – digo isso me virando em direção aos meus amigos que estavam olhando assustados.
Atrás de nós o caos já estava instalado, uma aglomeração de alunos se formou na frente da universidade, alguns infectados já haviam descoberto o banquete que os esperavam la dentro, a correria e o empurra-empurra tomou as ruas, nos afastamos para evitar o choque com aquela multidão de pessoas desesperadas. Corremos pra uma rua escura, olhando para meus amigos e vendo o desespero em seus olhos, eu sabia que a vida deles mudaria pra sempre, e que talvez todos os seus sonhos, esperanças e metas seriam despedaçados. Mas tínhamos uma arma muito poderosa, um ao outro, e iriamos fazer o possível pra passar por tudo aquilo juntos, e o mais importante, vivos. A rua estava deserta, e até o final dela, que terminava em uma grande avenida, não vimos ninguém.
- Precisamos nos movimentar longe da avenida, ainda não sabemos que proporções isso tomou, e nem o que pode ter transformado elas nesses monstros, fiquem atentos às áreas escuras e permaneçam perto de mim – eu disse tentando acalmá-los.
- Mas nossas coisas ficaram todas em nossas bolsas – disse Renan.
- Não podemos ficar aqui agora, daremos um jeito de voltar pra recuperar nossas coisas – digo isso sem saber se estaríamos vivos até la.

Seguimos aquela rua que era duas ruas acima da avenida, paralelamente a ela e decidimos procurar algo que pudesse nos proteger. Encontramos uma casa com o portão aberto e devagar, resolvemos entrar. A casa parecia ser de uma família de classe alta, o portão era todo fechado e tinha uns dois metros e meio de altura, cercado por uma cerca elétrica, a casa possuía dois andares e logo na entrada percebemos que havia alguém la dentro, segui na frente e ao colocar o pé no degrau da escada que dava acesso a porta, um disparo, tudo ficou escuro.